Em 2015 fui surpreendida ao ver nas redes sociais uma matéria machista, grosseira e extremamente humilhante contra uma profissional da enfermagem. E, honestamente, esta matéria atingiu profundamente todas nós MULHERES, na medida em que cada uma de nós está sujeita a passar por situações de violência moral e constrangimento como este.
Na matéria exploraram a vida íntima desta enfermeira e usaram expressões chulas, para mim, impublicáveis.
Os ingredientes eram: uma mulher inteligente, bem posicionada no campo profissional, todavia bonita e desejável, na verdade o estereótipo que agrada a maioria dos homens.
Isto me faz refletir que, apesar das décadas que os movimentos sociais e feministas lutam pela igualdade de gênero e contra toda e qualquer forma de preconceito e violência contra nós mulheres. E, apesar dos grandes avanços neste campo, como a criação da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, ainda em 2003; a homologação da Lei Maria da Penha em 2006, que dentre os destaques disciplinou o ciclo e os tipos de violência contra a mulher: FÍSICA, MORAL, PSICOLÓGICA, SEXUAL E PATRIMONIAL. Apesar da Lei do Feminicídio criada em 2015 e tantos outros mecanismos e intrumentos de combate ao preconceito e violência contra a mulher, alguns blogueiros, com a intenção ou não, continuam a nos agredir, expressando o machismo, o preconceito e a violência para conosco.
A exposição desta enfermeira nas redes sociais é, inquestionavelmente, uma GRANDE VIOLÊNCIA DE GÊNERO, UMA VIOLÊNCIA MORAL, que atinge a todas nós mulheres. E quando a matéria se repete por várias vezes, acontece o que os profissionais da área psicossocial chamam de REVITIMIZAÇÃO, fazer a vítima rememorar o trauma... a dor... várias vezes.
Para nós mulheres, é lamentável... revoltante... especialmente, em seguida ao caso que mexeu com todo o país, o estupro coletivo daquela adolescente por trinta homens, onde tanto se debateu a violência contra a mulher, mas, infelizmente, também ocorreu a revitimizacão, neste caso, de uma maneira mais perversa e cruel, a vítima passou a ser suspeita e, para alguns, até culpada. "Por que ela andava em más companhias?! Não havia marcas de violência?!"
Na verdade um dos grandes desafios dos crimes de estupro é que a vítima é muitas vezes a única testemunha. E muitas vezes não há marcas, dependendo do rito.
Quero esclarecer que tenho um profundo respeito aos profissionais da informação, porque levam informações aos quatro cantos do país e do mundo. Dizem por aí que a imprensa é o quarto poder. E é a partir desta premissa que chamo a atenção destes profissionais para a sensibilidade sobre temas como estes.
Desta vez foi a Keilane... esta adolescente...
Mas se não ajudarmos a preparar a sociedade para os grandes temas e desafios, amanhã pode ser a mãe, a mulher, ou a filha de qualquer um aqui.
Tive o prazer de conhecer Keilane em Montes Altos, ainda estudante de enfermagem. Depois a vi se formar, se debruçar sobre os livros e passar em seu primeiro concurso público, em primeiro lugar, num curto espaço de tempo e num concurso concorrido da Prefeitura de Imperatriz.
Num primeiro momento, confesso, ela me chamou a atenção por sua beleza, mas num segundo, me chamou por sua perseverança, competência, profissionalismo e espírito de luta.
Na verdade este texto é mais que uma reflexão, é um desabafo.
Como mulher e política, mandatária, não posso me calar diante de injustiça contra nós mulheres e tenho por obrigação primeira, dar a minha contribuição a este debate.
NÃO A VIOLÊNCIA CONTRA NÓS MULHERES!
NÃO AO PRECONCEITO!
NÃO AO MACHISMO!
VIVA A TODAS AS MULHERES...BRANCAS, PRETAS, GORDAS, MAGRAS, DO LAR, INTELECTUAIS, DA ROÇA, POLÍTICAS, COZINHEIRAS, MECÂNICAS, MOTORISTAS, PROFISSIONAIS LIBERAIS...
VIVA A MULHER BRASILEIRA!
Kelly Rocha
Psicóloga e Bacharel em Direito
Vice - Prefeita de Montes Altos
PC do B